Luís Carlos Luciano
Jornalismo e literatura se entrelaçam numa história de vida

Êta coceirinha go$to$a!!!

A coceira, a bendita coceirinha, quem não tem uma sarna para se coçar não conhece tudo de bom que este mundo oferece.
Tem a coceirinha da picada do mosquito, no vão dos dedos, a “cata piolho” da molecada na escola, aquela brotoeja em algum lugar discreto e por aí vai a coisa, a vida girando em torno da coça-coça danada.
“Rir e coçar é só começar”, é um título de uma famosa peça de teatro, além de “Trair e coçar é só começar”.
Entre os mamíferos, a maior vítima é o macaco: a coceira não pára nunca! A macacada faz uma roda com um ajudando o outro a se coçar.
Mas a melhor de todas surge nas mãos. É gosto$a demais. Êta bichinho atentado! Dizem que ela atrai dinheiro. Se coçar a mão esquerda, é cobrança na certa, aí o camarada não vai sentir tanta alegria. Mas se for a direita, ah! É bom demais. Como em dezembro se recebe o 13º, o que tem gente coçando a mão não é brincadeira, seja direita, esquerda, não importa, mesmo porque as contas são como sarna de jaguapiru. Cura uma e já vem outra no lugar!
Dezembro é coça-coça sem igual, nas ruas, no ambiente de trabalho, dentro do ônibus, na escola, no quarto, na sala, enfim, todos fazendo planos com o que fazer com o dinheiro extra.
Há outra simpatia: se coçar a mão, lógico, a direita, enfia ela rapidinho no bolso. O imã se torna mais forte. No caso da mulher, na bolsa.
Ah! coceiRra$, seus frutos trazem alegria, mesmo por pouco tempo. Afinal, quem deseja ser eternamente alegre? A tristeza ajuda a mostrar que nem só de coceira vive o macaco. Ganhar dinheiro, presentes, poder realizar um pequeno ou grande sonho de consumo, poder abrir uma poupança, pagar uma conta que o parente não pára de cobrar, ah! coça-coça mãozinha...
Enquanto o empregado sorri discretamente com sua coceirinha e planeja algo de bom, o patrão coça a cabeça para arranjar o dinheiro...
O Joãozinho anda com coceira e pensa nas tubaínas a mais, em “emendar a galopeira”, como costuma verbalizar.
Há um sujeito com a mão ferida de tanto coçar; a madame chorando a unha “Zé do Caixão” quebrada; a moça desejando umas bugigangas a mais; o moço imaginando coisas proibidas e não proibidas...uuuiiiiiáia, diria o lobão lá da toca ao lado.
Papai Noel de verdade (?) não deve ter esse tipo de problema porque nos continentes gelados a sarna não se propaga. Já os milhares de clones espalhados pelas lojas e shoppings, esses sim estão vermelhos por cima e por baixo. O sujeito faz de tudo por um dinheiro extra.
Joãozinho não pára de coçar, acha que vem $$$$ graúdos. Ele, o Chiquinho, o Sardentinho, o Baixinho, o Sisudinho e todos os “inhos” da vila coçam e coçam.
Ao lado da coceira, tem o comerciante de olho gordo nas compras; o vendedor com um sorriso colgate; o aumento dos preços; a lei da oferta e procura em alta; a confraternização familiar; amigo secreto e outros quadros típicos do período; o porquinho sentindo o cheiro de pururuca e o peru se acostumando com a idéia de virar assado.
Mas em meio a tanta besteira e inutilidade, cabe a pergunta: o 13º será fruto da coceira popular? Menos tristes aqueles que o têm. Porque sem $$$$$$, a coceira não passa de um mero estorvo a mais.